Uma homenagem ao dono de um legado muito além de “The Dark Side of the Moon
Estamos chegando ao final de 2023, e no dia 6 de setembro, aos 80 anos de Roger Waters. Este, que escreve este texto tem 66 anos de Idade e, porque não dizer, 56 anos de PROG. Posso dizer que sem Roger não teria esta experiencia de vida.
Devo isto também a minha falecida mãe Corina, a minha avó Maria e ao meu irmão Walter. Minha mãe por ouvir rádio todos os dias, a partir do qual tive as minhas primeiras experiencias com The Moody Blues e Procol Harum, que me impactaram, já aos dez anos de idade, minha avó por me incentivar a tocar usando as suas agulhas de tricô, que literalmente eu destruía nos móveis da casa, e o meu irmão, que por ter 5 anos a mais, me impactou positivamente, por me levar ao cinema local para ver Help dos Beatles, por aparecer com certos discos em casa e por ter colocado um certo pôster, no lado interno da porta do nosso quarto, de um cara chamado Roger Waters empunhando o seu poderoso baixo. De nosso beliche e durante muitos anos era assim que o via, como uma presença absoluta.
E assim foi em minha experiencia neste gênero musical, que em muitos aspectos moldou a minha vida como músico, ouvinte fervoroso e escritor e radialista que hoje sou. E é claro e evidente, que Roger e o Pink Floyd foram uma presença iluminada em tudo isto. Claro que tudo chegava muito tarde por aqui e as informações eram escassas demais. Tinha a revista POP com a sua linguagem, a qual sempre considerei muito ridícula, uns poucos amigos antenados (a maior parte a partir dos 14 anos) e então apareceu a Rolling Stone brasileira e logo depois a Revista do Rock, com boas matérias afinal. As fitas k7 trocadas entre os amigos e os poucos discos (muito caros na época) era o que tinhamos para ouvir boa música. Nada de streaming e arquivos nestes tempos.
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Foi assim que em 73 fiquei sabendo de “Ummagumma” e fui com um amigo de escola, O Nereu (futuro tecladista de nosso conjunto, o AC), a uma das poucas lojas de discos no Shopping Iguatemi em São Paulo e pedimos para ouvir alguns discos; eu queria muito ouvir o “Days of Future Passed” e “Ummagumma”, porque do Pink Floyd eu só conhecia “Meddle” (graças ao video do Live at Pompeii) e Atom Heart Mother. O cara da loja, com muita má vontade colocou primeiro o Days… e quando ouviu a orquestra tratou de tirar na hora (mal consegui ouvir) e depois colocou o Pink Floyd em “The Narrow Way”. Enquanto estávamos os dois literalmente viajando com a música ele tirou e colocou o “Razamanaz” do Nazareth dizendo…
“Voces precisam ouvir música de verdade garotos!” Eu até que gostei no primeiro momento e acabei saindo da loja com o “Ummagumma” e com este, (e me arrependi por não ter levado o Days), o Nereu com o “Thick as a Brick”. O inacreditável é saber que os membros do Floyd não gostam deste disco assim como também não gostam do “Atom Heart Mother”, outra obra máxima deles, com total influência da música erudita contemporanea. Duas das melhores obras experimentais feitas ainda na decada de 60 e começo dos 70.
“Ummagumma” foi lançado em outubro de 69, mesmo ano e mês do “In the Court of the Crimson King” do King Crimson, que é considerado por muitos criticos como o primeiro álbum PROG. Um absurdo total porque qualquer pesquisador lucido sabe que tudo começou em 66 ou 67, e só o nome do genero foi criado em 69 como “Rock Progressivo” em uma resenha deste album escrita por um crítico que até hoje ninguém sabe o nome. Antes o PROG era “Art Rock” ou “Psicodélico” já que não tinham outro nome para dar. O Floyd também era e ainda é considerado como música espacial. Porém, como bem disse Roger
“Nós não fazemos Space. No Espaço não há música. Apenas silencio.”
Logo depois, neste mesmo ano, tive o prazer de ouvir “The Dark Side of the Moon”, em edição importada, pois ainda não havia sido lançado aqui, em uma festa na casa de uma amiga (e fui lá, gravar no dia seguinte, em K7, com o meu pequeno National de teclas duras). No decorrer de alguns meses consegui ouvir toda a obra do Pink Floyd que ainda não conhecia. E Roger continuava lá na porta do meu quarto e ainda ficou lá por muito tempo. ´
Importante lembrar que Roger, Wright e Mason se conheceram estudando arquitetura e que sua obra, de forma consciente ou não, foi concebida sobre a influência de seus estudos. Os elementos psicodélicos na música e na iluminação foram desenvolvidos em suas apresentações de forma bem primaria no começo, se tornando cada vez mais avançadas e envolventes, no início uma perfeita atmosfera semelhante a uma verdadeira “viagem” de LSD até chegar a avanços tecnológicos inimagináveis, e tudo com muito bom gosto. Vale destacar que esta verdadeira construção arquitetônica de música e iluminação chegou ao seu ápice com o avançar do tempo, principalmente pelo trabalho de Roger Waters, que como todos sabem,
desde a saída de Syd Barret se tornou o verdadeiro arquiteto do Pink Floyd.
Em “Wish You Were Here” o dominio de Waters nas composições e letras torna-se cada vez maior e a partir de “Animals” e culminando em “The Wall” e “The Final Cut”, o derradeiro álbum do Floyd com ele, uma faceta sua pouca conhecida surge: a sua voz, revelando um estilo muito particular, no qual expressa todas as suas emoções contidas em letras surpreendentes, em um belo complemento para a música do Floyd. Uma fase bem questionadora e politizada, que longe de ser uma unanimidade, o levou a uma carreira solo amada por uns e detestada por outros, devido a estas inclinações. Roger em seus albuns solo e em suas apresentações, levou ao auge a sua experiencia “arquitetônica” e os seus ideais musicais sempre em um contexto questionador e político. Uma carreira na qual provou que sem dúvida ele era o grande criador do Pink Floyd, sem menosprezar as importantes contribuições que todos os outros membros trouxeram para a banda em suas diversas fases.

Como não considerar Roger, que com a saída de Syd, liderou o Floyd, assumindo as letras e a maior parte das composições e a direção musical, como uma grande personalidade do PROG e uma das mais importantes no desenvolvimento deste genero, sendo também um tremendo influenciador de vários musicos no PROG e no Rock e também em outros estilos? Todas as obras lançadas desde os anos 60 pelo Pink Floyd e por Roger Waters em carreira solo atestam a sua importância na evolução do PROG que amamos tanto. Há quem diga até (os mais fanáticos) que eles são muito especiais e transcendem este gênero. Endeusamento? Exagero? Pensem bem. Roger e o Floyd são muito amados por estas pessoas. São Eternos! Há, no entanto, quem discorde. Roger é muito criticado e chamado até de traidor por causa da sua saída do Pink Floyd e do Processo pelo uso do nome. Foi correto em meu entendimento. O nome nem pertencia a eles. Foi criado por Syd Barret. Eles o usaram enquanto a banda esteve coesa. Ele proprio foi coerente em não usar o nome e, sim o seu proprio, em carreira solo. Muito criticado por sua posição política! Ele é o letrista do Floyd e com a evolução da música e das letras, cada vez mais profundas, ficou muito claro que a morte do seu pai na guerra sempre o afetou muito. Impossivel separar o homem e os seus ideais da sua música e todos que REALMENTE o conhecem sabem disso.
Recentemente a crítica recai sobre a sua decisão da regravação do “The Dark Side Of The Moon”. Algumas faixas já foram liberadas e o álbum só será lançado em outubro. No entanto o que estamos ouvindo mesmo antes do lançamento? Pretensioso! Ultrajante! Traição a obra original! Desrespeito aos antigos membros e as suas respectivas músicas! Abominável!
Poucos… Só os que o conhecem bem (me incluo entre estes) compreendem o seu objetivo, com todo o direito, diga-se de passagem. Vejam bem … o álbum já tem cinquenta anos… Roger faz 80 (quase 30 quando foi lançado). Hoje ele vê a obra com outros olhos. Um olhar mais maduro e abrangente. Mais intimista, realista, soturno. Vamos respeitar a Obra e o Homem! Esta é uma ótima maneira de homenagear alguém com uma obra tão magnifica e eterna. Eu continuo me lembrando do pôster em meu quarto com Roger empunhando com muito mais orgulho o seu baixo por ter chegado aos 80 anos, e por ter criado uma obra fantástica e passado por tudo o que passou. Feliz Aniversário Waters.
Vinício Ricardo Meirinho/Confraria Floydstock
Blog Peculiar PROG e Momento PROG/Rst Rádio Rock
3 comentários em “Pink Floyd: os oitenta anos de Roger Waters e sua importância para o PROG”