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Cesar Camargo Mariano: "Sertanejo é tudo menos arte e Elis só teve uma"

Cesar Camargo Mariano: "Sertanejo é tudo menos arte e Elis só teve uma"

O grandioso pianista, arranjador, produtor e compositor Cesar Camargo Mariano, que fora casado com a Pimentinha Elis Regina e com ela gerou dois filhos, Pedro Mariano e Maria Rita, hoje residente nos Estados Unidos, falou muito bem dito a Lucas Almeida da Revista Veja sobre a atual cena da música brasilera. Leia abaixo alguns trechos:

Acompanha as novidades na música brasileira?

“Sempre, e acho que a indústria achatou todo o mercado. É difícil conhecer as pessoas novas que são boas, porque elas não ganham espaço. Quando você começa a produzir um álbum, o diretor da companhia dita regras para ser mais comercial. Isso já acontecia com grandes nomes como Simone e Elis, mas a qualidade da música acabou. No Brasil, as pessoas só pensam na mídia, custe o que custar. A arte virou um papel amassado jogado no lixo.”

O mercado sertanejo, em especial, vem ganhando espaço. Acredita que existe uma saturação do estilo em prol do comércio?

“O sertanejo de hoje é descartável, igual ao funk brasileiro atual. Se você quer saber mesmo, tomara que não perdure, porque não tem a qualidade que eu proponho: só serve para pular e dançar. Você me desculpa, mas eu estou velho. Não posso deixar mais de falar o que penso. O sertanejo é tudo, menos arte. As pessoas não são mais artistas, são personalidades.”

Algum artista brasileiro atual já despertou a sua atenção?

“Me chamaram para fazer arranjos para Ivete Sangalo, quando ela estava começando carreira-solo. As duas músicas que eu fiz com ela estouraram: Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim e Sá Marina. A Ivete foi para outro gênero, mas, mesmo lá, ela faz com qualidade. Tem uma outra, que está na mesma onda dela, só que é loira, que é uma porcaria. Ela não traz nada novo. A música da Ivete é benfeita. Se você me perguntar se eu gosto, vou dizer que não, porque não entendo e não faz parte do meu mundo.”

Assistiu ao filme Elis, lançado no ano passado?

Não, eu já sei a história toda (risos). Vejo o meu passado como algo que foi muito bacana e valeu a pena. Agora, continuo trabalhando para fazer outras coisas. Uma vez, conheci Tony Benett e ele disse que tinha Elis & Tom na cabeceira da cama. Isso é um orgulho. Foi um trabalho legal, mas não gosto de ouvir minhas coisas, nem penso em regravar nada. Não gosto nem de repetir música em show quando pedem bis.

É quase um consenso que Elis foi a maior cantora do Brasil. O senhor reconhecia isso na época?

Antes de conhecer a Elis, já tinha visto o seu potencial, por conta do carisma e do modo de interpretar. Não dava para não perceber o talento da Elis, porque era perfeito. Elis Regina só teve uma. Melhor assim. Não é legal ter oito Picassos, mas sim ter um só.

A música tinha um papel relevante na TV quando o senhor despontou. Voltaria a fazer algum programa se fosse chamado?

“Hoje, não existe mais espaço para a música na televisão. A TV Manchete me chamou para apresentar o Um Toque de Classe e eu misturava tudo. Chamava Lobão para tocar jazz comigo e fazia duetos com Djavan. Mas se aparecesse um pedido desses agora, eu não toparia. Com quem que eu vou tocar? (risos).”

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