Confraria Floydstock

Música é assunto para a vida toda

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A Confraria Floydstock entrevista Ricardo Seelig da Collectors Room

A Confraria Floydstock entrevista Ricardo Seelig da Collectors Room

Eu, André Floyd, comecei a mexer com blog em 2011, no extinto Free Four que posteriormente dera origem à Confraria Floydstock.

Na época a referência maior para quem queria acompanhar tudo que acontecia no universo do rock era o já famoso e sedimentado site Whiplash.net e também a Van do Halen que já começava com muita bagagem e tarimba.

Essa era a base. Até que rodando a internet me deparei com um site intitulado Collectors Room, feito por um jornalista lá de Santa Catarina e que com um estilo bem diferenciado de publicar suas matérias, primando muito mais pela qualidade e rebuscado das informações do que propriamente ser um rolo compressor de notícias instantâneas.

Esse sujeito, chamado Ricardo Seelig, influenciou muito meu modo de fazer blog e afins, passando a ser minha maior referência dentro do jornalismo musical.

E eis que ele topou a me conceder uma entrevista que você pode ler nas linhas abaixo:

Primeiramente, parabéns por ultrapassar a marca de 10 milhões de pageviews com a Collectors Room. Como surgiu a ideia lá em 2007 de montar a Collectors, como surgiu à mente o nome do site e houve algum site que lhe inspirou no início?

Opa, obrigado. A ideia veio de uma sessão que a infelizmente extinta revista Bizz publicava, chamada Minha Coleção, onde eles mostravam as coleções de discos de músicos brasileiros. Sempre gostei de conhecer coleções de outras pessoas, e adorava aquela coluna. Isso foi em 2005, e o site ainda não existia. Na época eu estava começando a escrever sobre música, algo que sempre quis fazer, e colaborava com o Whiplash. Propus então a ideia da coluna para o João Paulo, editor do Whip, que era realizar entrevistas com colecionadores de discos de todo o Brasil, e ele curtiu. O sucesso foi imediato, com as pessoas se identificando com as entrevistas, o que tornou a Collectors Room uma das colunas mais populares do Whiplash. Essa aceitação levou à criação de uma comunidade no finado Orkut, onde conheci muitos colecionadores e trocávamos ideias. Foi lá que surgiu a ideia de transformar a coluna do Whip em um blog, algo que fez com que o desejo de escrever sobre música que sempre tive fosse levado mais a sério. A ideia para o nome da Collectors Room provavelmente surgiu da troca de ideias e informações com outros colecionadores, ainda na época do Orkut. Gostei, e a coisa foi indo.

Sabemos da árdua missão que é conduzir um site de notícias musicais voltado especialmente para um público, digamos, seleto. Recentemente tivemos a divulgação do vídeo do dono do Whiplash.net contando a sua história e o encerramento das atualizações da Van do Halen. Hoje, o que lhe motiva?

Focar o site em notícias é algo que demanda um comprometimento enorme. Quem tem que dividir o trabalho do site com outra profissão, como é o meu caso, acaba não tendo condições de se dedicar exclusivamente a isso. Já tentei ser mais focado em news, mas não dá. Hoje publico apenas as que acho mas relevantes e alinhadas com o perfil do público do site. Criei uma rotina para que essa atividade não interfira no meu trabalho, que é a coordenação de criação de uma agência de propaganda aqui em Florianópolis. Faço os posts do site em três períodos: cedo da manhã, ao meio-dia e no final do dia, com o objetivo de conseguir manter a Collectors atualizada e não perder o foco na minha profissão, que é o que paga as contas efetivamente. Infelizmente, apesar de ter uma média de mais de 150 mil acessos mensais, o site é inviável financeiramente, talvez por incapacidade minha em torná auto suficiente ou por contingências de mercado mesmo. O que me motiva a seguir com a Collectors Room é uma soma de fatores: a história que construí em todos esses anos de trabalho, o contato com outras pessoas tão apaixonadas por música quanto eu e o amor que eu sinto pela música. No final das contas, a Collectors Room acabou se transformando em uma espécie de documento pessoal sobre a minha relação com a música, e não quero perder isso.

Quem lhe acompanha na Collectors Room sabe que você é um incansável entusiasta e nada preguiçoso minerador de novos e bons sons. Nesses dez anos, qual foi a mais grata surpresa musical que você conhecera?

Muitas e inúmeras. O sucesso do site fez com que eu começasse a receber bastante material de gravadoras, e muitas bandas que eu não iria atrás por não conhecer acabaram sendo apresentadas aos meus ouvidos desta maneira. O desejo de produzir um material interessante e diferenciado para os leitores também intensificou o meu lado de pesquisador musical e me fez manter o ouvido sempre atento. Um dos meus maiores temores é me tornar um ouvinte saudosista e cheio de preconceitos, e faço tudo para que isso não aconteça. Por isso, estou sempre pesquisando novos sons, característica que sempre tive desde que comecei a me interessar por música e penso que é comum e fundamental para todo ouvinte de música. Em relação às bandas, acho que o Rival Sons é um bom exemplo. Uma banda que descobri lendo a revista inglesa Classic Rock, adorei, trouxe para o site e hoje e é um dos nomes mais legais do rock atual.

Tal qual a Confraria, você na Collectors defende uma abertura de fronteiras no tocante aos estilos musicais, fazendo questão de frisar que o site é sobre música e não somente de rock. Você acha que para muitos, há uma enorme dificuldade de reconhecer a qualidade em diversos estilos musicais ao mesmo tempo? Por que?

Há uma grande quantidade de fãs de rock que possuem uma postura bastante arrogante e acreditam que não existe nada com qualidade fora do estilo. Isso é uma tremenda bobagem e só mostra a limitação de pensamento desse povo. Temos bons artistas, discos obrigatórios e ótimas músicas em todos os gêneros musicais, assim como temos coisas ruins feitos em todos eles. Além do mais, ouvir estilos diferentes tira o ouvinte de sua zona de conforto, apresenta novas abordagens sonoras e o ajuda a entender melhor o próprio rock. O jazz, nesse aspecto, é quase didático, pois funciona como força motriz para derrubar barreiras e abrir de vez cabeças limitadas musicalmente. Claro que cada um ouve e gosto do que quer, mas também é óbvio que existe música de qualidade sendo produzida nos mais variados gêneros, e o fato de você gostar ou não daquilo não quer dizer que trata-se algo necessariamente ruim.

Recentemente o rapper Emicida disse que existe a música feita para a indústria e a feita para a arte. Na sua opinião, onde esses caminhos podem se cruzar? Hoje em dia onde encontrar sucesso e qualidade concomitantemente? Existe uma fórmula para unir o pop altamente vendável com o som elaborado?

O próprio Emicida faz música para a indústria e para a arte. Ao mesmo tempo em que formata o seu som para colocá-lo em uma embalagem mais agradável para uma fatia maior de público – o fator “indústria” -, segue mantendo o necessário discurso de denúncia racial e social de sua música. No meu modo de ver esses dois pontos podem andar juntos, sim. Pegue um disco como Thriller, do Michael Jackson, ou o mais recente do Daft Punk, Random Access Memories. Ambos são trabalhos com conseguem apresentar composições com intrincados arranjos sem jamais perder a acessibilidade. O fato de uma música ser um hit, de uma música soar como pop, não quer dizer que ela é pobre musical e harmonicamente. Ouça “Beat It”, ouça “Billie Jean”, ouça “Get Lucky”: todas trazem inovação sonora, são elaboradas musicalmente e soam agradavelmente pop.

Ainda com base na questão anterior, o que é uma boa música e uma música ruim para você?

Eu não gosto de analisar a música de uma forma apenas teórica e fria. O que eu gosto na música é que ela me faz sentir algo. Que ela me arrepia. Gosto muito de bandas e artistas que trazem um elemento emocional bastante evidente, e isso se percebe desde Miles Davis até Baroness. A resposta para essa questão é bastante subjetiva, assim como a própria relação que temos com a música: cada um sente de um jeito diferente. Há sempre um forte fator sentimental e pessoal na relação de cada um com a música, então a resposta para essa pergunta sempre passará por isso.

Na crescente onda do digital e streaming, como é ser um grande colecionador de produtos fonográficos físicos? Você acaba por ter uma relação de estima com os objetos da coleção e os deixa guardados até para não correr o risco de danificá-los ou os coloca sempre para tocar? Há o momento do físico e o momento do digital?

Sempre comprei discos. A vida toda. Com a chegada do streaming, me encantei com a comodidade e a praticidade do serviço, e deixei a minha coleção meio de lado. Porém, aos poucos fui retomando a paixão pela minha coleção, e hoje ela voltou a me despertar o desejo que sempre despertou. A música, pra quem convive de maneira tão intensa com ela como a gente, é e tem que ser mais do que um arquivo intangível dentro de um computador. Ela precisa ter a sua personificação física através dos discos. Ter uma enorme coleção de discos é reconfortante em diversos momentos, pois além de transmitir a sensação de que você nunca está sozinho, funciona como um livro de memórias da sua vida. O que eu penso em relação aos discos é que eles nunca podem ser objetos de decoração: uma coleção existe para ser ouvida, tocada, remexida. Ela precisa ser viva, precisa respirar. Nunca tive esse cuidado intenso que percebo com diversos colecionadores em relação aos seus itens. Ouço música, toco os discos, mexo nos encartes, bebo minha cerveja perto deles: música é isso, não algo frio em que você precisa usar luvar para tocar seus discos. E sim, acho que existem momentos onde o digital é muito mais prático – como no celular e na rua – do que o formato físico.

Em essência, o que é o rock and roll para você?

O rock é, em essência, a própria música para mim. Foi através dele que me apaixonei pelos sons. Foi o rock que atiçou a minha curiosidade sobre novas bandas, novos discos e novos estilos musicais. É uma forma de música que jamais irá se esgotar, pois consegue sempre se renovar inserindo elementos de outros gêneros para criar sonoridades originais. O rock é um companheiro e a trilha da minha vida, literalmente.

Tal qual Elvis, Beatles e toda aquela geração 50-60-70 foi um dia, você acredita que alguma gama de artistas e/ou bandas de rock ou seus afiliados, um dia voltarão a ser a música mais ouvida e consumida do planeta?

Acredito que a música é cíclica. As coisas se repetem, sempre. O último grande momento do rock, comercialmente falando, foi nos anos 1990 com o grunge. Depois disso, ele foi sendo empurrado para baixo do tapete gradualmente, tanto no Brasil como no mundo. Nos Estados Unidos, o rap ultrapassou o rock como a música mais ouvida pelo público. No Brasil, nem se fala. O fato é que a maior parte do público consome música de maneira casual, sem se preocupar com quem está tocando e coisas do tipo. Esse público consome apenas o que está na moda, o que é sucesso no momento. E agora, aqui no Brasil, a música pop é o sertanejo universitário, o funk carioca e afins, estilos bastante distantes do rock. Mas sim, acredito que é um gênero que sempre se renovou e que, como falei, habita um mercado historicamente cíclico. O que nos resta é aguardar e ver quando ele ressurgirá como música de massa – o que não quer dizer que ele esteja morrendo, longe disso, já que o que não faltam são ótimas bandas surgindo todos os anos.

Para fechar descontraidamente, algumas rapidinhas na lata sobre seu gosto musical: 

Beatles ou Stones?

Beatles.

Led ou Purple?

Led Zeppelin, melhor banda do mundo.

Metallica ou Megadeth? 

Metallica, sempre.

Frank Zappa ou Lou Reed?

Zappa, gênio.

Yes ou Pink Floyd?

Pink Floyd. Uma banda que extrapolou totalmente o rock progressivo e se tornou muito maior do que ele.

Etta James ou Billie Holiday?

Etta.

Tarja ou Floor?

Floor.

Mutantes ou Secos e Molhados?

Secos e Molhados.

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