O desrespeito à autoridade e às instituições públicas era uma grande parte da mística de Jim Morrison, mas até mesmo o Rei Lagarto sabia que não havia sentido em desafiar os federais. Em 4 de abril de 1969, o líder do The Doors entregou-se ao FBI, enfrentando uma acusação por comportamento lascivo e três acusações por contravenções de exposição indecente, linguagem ofensiva e embriaguez.
As acusações resultaram do infame show do Doors ocorrido em Miami em 1 de março de 1969, durante o qual um Morrison visivelmente bêbado gaguejou e tropeçou no decorrer do show antes de supostamente se expor ao público. Embora não houvesse realmente nenhuma evidência para apoiar essas acusações específicas, os advogados de Morrison o aconselharam a cooperar com as autoridades, desencadeando um longo processo legal que não engrenaria realmente até o julgamento começar em 12 de agosto de 1970.
Embora negasse ser culpado de indecência pública, Morrison admitiu espontaneamente as tendências autodestrutivas que alimentaram seu comportamento no palco.
“Acho que estava farto da imagem que tinha sido criada em torno de mim, com a qual eu às vezes conscientemente, na maioria das vezes inconscientemente, cooperava“, disse ele a Circus.
“Foi demais para mim digerir então eu simplesmente acabei com isso em uma noite gloriosa. Eu acho que o que aconteceu foi que eu disse à platéia que eles eram um bando f***** de idiotas por serem membros de um público. O que eles estavam fazendo lá de qualquer maneira? A mensagem básica era perceber que você não está realmente aqui para ouvir um monte de músicas de alguns bons músicos. Você está aqui para algo mais. Por que não admiti-lo e fazer algo a respeito?“
Não ajudou o fato de Morrison ser em geral um sujeito bastante provocador – em 1968, o FBI havia montado um arquivo de 80 páginas sobre ele – ou de haver sido preso no palco durante um show em 1967 em Connecticut. De acordo com a promotoria, o show de Miami viu Morrison “fazer das tripas coração num esforço para provocar o caos em uma multidão de jovens. O programa de Morrison durou uma hora, durante a qual ele cantou uma música e no restante do tempo ele grunhiu, gemeu, girou e gesticulou junto com observações inflamatórias. Ele gritou obscenidades e se expôs …“
Em outras palavras, apesar da falta de corroboração, as acusações estavam destinadas a ficar – e assim o fizeram. Em 20 de setembro de 1970, Morrison foi considerado culpado de exposição indecente e linguagem ofensiva – um par de acusações de contravenção – e o crime e a contravenção por embriaguez foram descartados. Libertado por uma fiança de US $ 50.000 e devolvido a Miami em 30 de outubro de 1970 para condenação, Morrison recebeu seis meses de trabalho pesado e uma multa de US $ 500 por exposição pública além de 60 dias de trabalhos forçados por linguagem ofensiva, que deveriam ocorrer simultaneamente.
Para os fãs de Morrison (e, mais importante, para seus advogados), a coisa toda parecia uma caça às bruxas, e ele imediatamente pôs-se a elaborar um recurso. Ele morreu antes que o caso pudesse finalmente ser resolvido, mas em 2010, o então governador da Flórida, Charlie Crist, perdoou Morrison, chamando sua condenação de um “borrão” manchando seu registro por “algo que ele pode ou não ter feito“.
“O que eu sei é que, se alguém não cometeu um crime, isso deve ser reconhecido“, disse Crist. “Vivemos em uma sociedade civil que entende que o legado duradouro de um ser humano e talvez o último ato pelo qual eles podem ser conhecidos, é algo que nunca ocorreu em primeiro lugar, nunca é uma má idéia tentar corrigir um erro.“
Traduzido por Renato Azambuja via UCR