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Ian Gillan, A "Voz de Prata"

Ian Gillan Deep Purple

As cordas vocais são artigo de luxo para o aniversariante de hoje.

Neto de um cantor de ópera barítono, Ian herdou o timbre do avô, possuindo alcance vocal C♯2-D6, sendo um mestre dos falsetes.

Egresso das bandas sessentistas The Sweet, The Javelins e Episode Six, foi nesta última que em despontando em um show, chamou nitidamente a atenção de Jon Lord e Ritchie Blackmore que o recrutaram para assumir prontamente o microfone do Deep Purple em 1969, substituindo Rod Evans e se consagrando na segunda formação, a Mark Line II da banda.

Ian Gillan, que chegou no Deep Purple juntamente com o baixista Roger Glover, mudou substancialmente a sonoridade da banda, tornando-a “supersônica”, com seus gritos em falsetes espetaculares, modo de cantar que se tornava cada vez mais popular no fim da década de 60 e tinha como os dois maiores expoentes no estilo, Ian Gillan no Deep Purple e Robert Plant no Led Zeppelin.

O guitarrista Ritchie Blackmore certa vez, definiu a voz de Ian Gillan: “gritos profundos com uma pegada de blues“.

Em 1970, Gillan começava sua escalada nas escalas vocais às alturas. “Speed King“, primeira faixa do primeiro álbum com ele nos vocais “In Rock“, é um prelúdio do que ele faria pela década adentro. Um petardo vocal, com direito a gritos enfeitiçantes, puro hard rock.

Mas talvez não exista fã dessa formação ou propriamente fã de Ian Gillan, que não considere como seu clímax a faixa 3 do álbum ‘In Rock“, a homérica “Child In Time“, já previamente apresentada em dezembro de 1969, no Concerto Para Grupo e Orquestra no Royal Albert Hall, antes do lançamento de “In Rock“,e, imortalizada em 1972, num dos maiores registros de rock de todos os tempos e o maior do grupo, “Made in Japan“.

Child In Time” é uma epopéia vocal, uma ode a quem aprecia o lírico-visceral, a música da vida de Ian Gillan, que fez dela sua obra-prima. Mesmo contando com os solos de teclado de Jon Lord e o extenso solo de guitarra de Ritchie Blackmore, o ponto alto e ímpar da canção são os berros históricos de Gillan. Um perfeito blues-hard-rock loser.

No ano seguinte, 1971, o Deep Purple lançou o álbum “Fireball“, e nele estava a canção “Strange Kind Of Woman“, que também no concerto nipônico de 1972, ganhara uma interpretação dourada de Ian Gillan, cheia de blues, swing e claro, gritos.

E belissimos berros, sobretudo, no lendário e definitivo “Duelo Voz-Guitarra” que travara juntamente com o guitarrista Ritchie Blackmore no palco, onde um ia repetindo a sequência de notas lançadas pelo outro, uma brincadeira para quem sabe tudo de música e mais um pouco.

E eis que chega, 1972, o ano mágico do Deep Purple, tempo em que eles, e aqui em especial, o nosso vocalista, chegam ao auge.

Ano do lançamento do “best-seller” da banda, o álbum “Machine Head“, com todas as músicas entre ótimas e maravilhosas e novo show vocálico de Ian, que mostra tanto no estúdio, como nos shows da turnê do álbum, incluindo o já supracitado “Made In Japan”, todo seu poderio, a começar pela icônica “Highway Star“, petardo hard rock, com exibição vocal de luxo de Gillan.

Gillan é puro feeling ao cantar, por isso, por mais que já tenha cantado a música mais famosa e carro-chefe do Deep Purple, “Smoke On The Water“, talvez nunca o tenha feito da mesma forma, denotando uma enorme versatilidade interpretativa.

Uma verdadeira aula de blues-rock é o que podemos presenciar em “Lazy“, onde Gillan além de cantar precisamente, nos mostra seus dotes na gaita.

Meados da década de 70 foram chegando e o clima dentro do Deep Purple foram ficando cada vez mais desgastantes e desmotivadores para Ian Gillan, que pulou fora, e no início da segunda metade da década, em 1976, funda a Ian Gillan Band, um hepteto virtuoso e eficiente, com uma sonoridade próxima do jazz-fusion, e com sua nova turma, Gillan lançara dois álbuns de estúdio, “Clear Air Turbulence” e “Scarabus“, de 1977 e o ao vivo “Live at the Budokan“, de 1978, tudo de primeiríssima qualidade, mesmo não tendo atingido a explosão comercial, destaque para as modificadas versões ao vivo para “Smoke on the Water” e “Child in Time“, dos tempos púrpuros.

Virando a década, em uma conversa de bar em 1983, regada à muita bebida, Ian Gillan e os sabáticos Tony Iommi e Geezer Butler, bradam em tom de brincadeira fazer um álbum do Black Sabbath juntos. O grupo havia sofrido a perda do então vocalista Ronnie James Dio que partiu para carreira solo. Manhã seguinte, passada a ressaca, o projeto jocoso começou a ficar sério, e no dia 7 de agosto daquele ano era lançado o excelente álbum do Black Sabbath, “Born Again“, a única incursão do vocalista pelo Heavy Metal, porém, mesmo com n fãs tanto do Sabbath, como do Purple torcerem bem o nariz, numericamente o disco fora muito bem, atingindo logo o quarto posto na parada bretã, e possuindo uma enorme qualidade e peso, com novo show de Gillan nas faixas “Trashed“, “Disturbing The Priest“, “Zero The Hero” e “Born Again“.

Lamentavelmente nenhum registro oficial ao vivo foi nos deixado, restando apenas alguns bootlegs de shows dessa época.

Em 1984 a Mark Line II se reune novamente e o álbum “Perfect Strangers“, lançado em 16 de setembro nos diz: o Deep Purple ressuscitou!

E Ian Gillan entoava novos clássicos do grupo com maestria, tais como a faixa-título, “Knocking At Your Back Door“, “Under The Gun” e “Nobody’s Home“.

No CD/DVD “Perfect Strangers Live“, gravado em 1985, vemos e ouvimos uma nova apresentação solene de Gillan e seus colegas púrpuros, com direito à “brincadeirinha”, novamente em “Strange Kind Of Woman“, com Ritchie Blackmore.

Nessa época, Ian Gillan ainda tinha sua peculiar potência vocal e a sua marca clássica nos fartos gritos, embora já se podia sentir um pequeno decréscimo no tom e sua potência. Mas ainda deu pra mandar muito bem o hino “Child In Time“.

As coisas internamente no Deep Purple nunca foram muito fáceis, principalmente a relação Gillan-Blackmore, uma eterna batalha de egos.

em 1989, Gillan perde a queda de braço e deixa o grupo que recruta Joe Lynn Turner para seu lugar. Este declina em 1992 no meio das gravações do álbum “The Battle Rages On…” e Gillan é chamado para terminá-lo, regravando-o com sua voz e saindo em turnê em 1993, onde dessa vez, Ritchie Blackmore sucumbe e abandona.

De lá para cá o Deep Purple teve algumas alterações, sempre com Ian Gillan como frontman, porém infelizmente a idade e o desgaste vai caindo sobre todos nós, e caiu sobre Ian Gillan, sobretudo na sua garganta, que nos dias de hoje tem muito pouco dos velhos gritos cheios de fôlego e falsetes, contudo, ainda possui a maestria do canto embluesado, feeling e muita técnica.

Assistam-no em “Deep Purple – Live at Rockplast” 1985, no vídeo abaixo:

E essa versão magnífica de “Nessun Dorma”, juntamente com o tenor Luciano Pavarotti em 2003:

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