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Em março de 1982 entrava no ar a Rádio "Maldita"

Na imagem vocês podem ver o selo “Aprovado pela Fluminense FM no LP “Alchemy”, registro ao vivo lançado pelo Dire Straits em 1984, hoje uma relíquia, não só pela qualidade sonora do disco mas muito também pela recordação de uma rádio histórica, que tive o prazer de ouvir no ar.

Abaixo o texto de seu fundador:

Foi há 35 anos. Às seis horas da manhã de 1º de março de 1982 entrava no ar uma rebelião radiofônica chamada Fluminense FM, eternizada como Maldita, que fulminou as normas das FMs ditas jovens da época.

Este ano, a Maldita ganha uma inédita homenagem nas TVs por assinatura e dois longas-metragens. A partir desta madrugada, a rede de áudio Sound, do Sistema Globo de Rádio, veicula o canal A Onda Maldita, com mais de mil músicas que selecionei das fases 1982-1985 e 1990 da rádio, fases em que estive na direção da emissora. O canal Onda Maldita estará, por 15 dias, na Net (canal 300), Sky (canal 474), Claro (canal 338) e Oi (canal 926).

A produtora Luz Mágica, de Cacá Diegues e Renata de Almeida Magalhães, roda este ano o filme “A onda maldita”, uma ficção inspirada em meu livro biográfico sobre a rádio, com roteiro de L.G. Bayão e direção de Tomás Portela. Mais: a cineasta Tetê Mattos lança o documentário “Maldita”, longa que está em fase de finalização.

Nenhuma outra FM foi cultuada por tanto tempo e tanta gente de tantas gerações. O tiro na asa fulminante da Fluminense foi a fala, o texto, o contexto, um quase radioteatro de vanguarda. Lançou a locução feminina em todos os horários, não usava gírias e palavrões (acabar com o estigma de juventude tola), mantinha locução sóbria, sem gritaria. Tudo que era dito no ar tinha texto, produção. Com muito humor.

Em 1982, a abertura política já parecia uma realidade e uma das provas foi a existência da Maldita. Se fosse no auge do AI-5, ela não poderia pôr no ar até notícias censuradas, com o apoio do dono da rádio, o saudoso liberal Dr. Alberto Torres.

Hoje seria mais complicado por causa de uma outra e não menos nefasta ditadura, a do politicamente correto. No dia em que “decretaram” a censura a algumas marchinhas de carnaval, a rádio chamaria uma banda, gravaria versões roqueiras das marchinhas vetadas e tocaria várias vezes por dia, com direito a falas indignadas de João Roberto Kelly. Mais: faria uma maratona de shows do tipo “Viva a Cabeleira do Zezé” com seu concubino, o Circo Voador.

Nestes tempos cinzentos, chatos e caretas como calça de tergal, impossível manter no ar o personagem Jarbas Falópio e seu programa “Palavras voam ao crepúsculo”. Reacionário, moralista, precursor do politicamente correto, em sua pregação diária Falópio disparava coisas do gênero: “Cuidado, Paula Toller, Toller, Toller (eco). Roqueiro é tudo bêbado e drogado ado, ado, ado (eco). Largue essa laia, Paula, la, la, la (eco). Um dia desses, contemplando em prantos a foto de Hitler, papai, mamãe e vovó na mesinha de cabeceira, me veio a luz. Mick Jagger finge que é viado só pra comer todo mundo, inclusive você Paula Toller, Toller, Toller (eco).”

E as músicas? O politicamente correto deixaria a Maldita tocar “Rock das Aranhas” de Raul Seixas, numa boa? (“Eu vi duas mulher/ Botando aranha prá brigar…/ Duas aranha /Vem cá mulher deixa de manha/ Minha cobra/ Quer comer sua aranha….”) A polícia deixou, mas o politicamente correto é menos liberal.

Mesmo fora do ar, a Fluminense FM continua sendo transmitida de boca em boca, já que até hoje a sua lacuna audaciosa, inteligente e engraçada não foi preenchida. Isso é que não dá para entender.

*Texto de Luiz Antonio Mello, jornalista e fundador da Rádio Fluminense FM

Fonte: O GLOBO

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