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Black Sabbath: "Born Again" é um álbum com pecados, mas Sabbath bom é Sabbath pecaminoso

Black Sabbath - Born Again
Black Sabbath - Born Again

Como muitos sabem, reza a lenda que o vocalista púrpuro Ian Gillan estava tomando umas e outras com Tony Iommi e Geezer Butler, ambos remanescentes da finada formação sabática que perdera Ronnie James Dio e Vinnie Appice, após o controverso e poluidamente sonorizado disco ao vivo “Live Evil”.

Após muitas cervejinhas ideias adentro e a empolgação e risadas a mil, os músicos e amigos bretões prometeram ali mesmo no bar, gravarem um álbum juntos, o décimo-primeiro do Black Sabbath, com a “Voz de Prata”, Ian Gillan no vocal.

Passada a bebedeira e a ressaca, não é mesmo que em seguida estavam os três no estúdio, somando-se a eles, o baterista Bill Ward, membro original do Sabbath e também o tecladista Geoff Nicholls.

Assim nasceria no dia 7 de agosto de 1983 o álbum “Born Again“, álbum este que viria a ser rejeitado por inúmeros fãs mundo afora, a começar pela capa, que traz um “brasinha”, um pequeno e recém-nascido demônio, ou quem sabe um simpático exú-mirim.

Se na sua origem, “Born Again” nascera do “afogar as mágoas” por “Live Evil“, este não resolveu muita coisa no quesito produção e qualidade de som, sendo este um outro alvo implacável das críticas.

Pois bem, só que este escritor adora “Born Again” desde criança e resolveu fazer o papel breve de seu “advogado do pequeno diabo”.

Em primeiro lugar, tomemos o álbum como um bootleg de luxo, admita mesmo que fora mal produzido e gravado, mas atenha-se às canções.

Apesar das falhas de produção, este disco soa bem denso, alto e pesado, ou seja, amplamente sabático, com a guitarra de Tony Iommi bem em todas as faixas, tanto nos riffs (pra variar), quanto nos solos, todos muito bons.

Arrisco dizer que “Born Again” emana uma atmosfera mais Black Sabbath do que o próprio “Never Say Die“, último álbum da fase Ozzy (até então), com um Iommi pouco inspirado, talvez cansado de tanto trabalho que o madman lhe dava à época, resultando em sua demissão do grupo.

Aliás sobre essa questão “atmosfera Black Sabbath”, Tony Iommi e vocalistas, recomendo um outro texto deste blog, o “Black Sabbath: a essência Iommi e vocalistas à parte“.

Voltando ao “Born Again“, a sua faixa de abertura “Trashed” devo dizer é uma das grandes pedradas do metal oitentista, flertando bastante até com o próprio Trash Metal, não à toa também tenha tal título. E esse baixo trovejante com a assinatura  de Mr. Terry “Geezer” Butler?  Show!

Após a turbulenta chacoalhada inicial, recomendo que você apague as luzes e se climatize para receber o prelúdio “Stonehenge“, uma pequena trilha de terror, macabra que servirá de marca-passo lúgubre para o despertar das forças que perturbarão o padre na canção “Disturbed The Priest” ( tem algo mais Black Sabbath que esse título).

Nela, Ian Gillan que já vinha divertidamente soltando seus ultrassônicos berros na faixa anterior, abre a canção se esgoelando ao máximo, entregando toda a pertubação cabível ao tema, enquanto Iommi “bate” em sua guitarra, dela extraindo riffs assustadoramente empolgantes.

A seguir, novamente a dobradinha prelúdio-música principal com “The Dark“/”Zero the Hero“, aqui também temos duas faixas que foram feitas para serem ouvidas sempre juntas, com a introdução entregando gradativamente dessa vez para o peso que viria com uma espécie de emulação de um zumbido de um pernilongo através da guitarra de Iommi até este mudar o pedal e carregar abruptamente as coisas. Vale destacar o belo solo que essa canção traz.

Ok, realmente não tem como dar nota dez para este álbum devido à canções esquecíveis e enche-linguiça tais como a seguinte “Digital Bitch” e o encerramento com a cansativa “Keep it Warm“.

Então voltemos a nos ater às coisas boas.

Chega a faixa-título, uma embrionariamente climática “balada univitelina” que requer atenção. Não ouça tal canção distraído, ela vem como uma meditação musical soturna e amargamente doce, revelada no toque macio nas cordas de Tony Iommi, a marcação sabiamente cadenciada de Bill Ward e o canto sentimental-agudo de Ian Gillan. Novamente temos um solo lindo de Iommi.

Prosseguindo, chega “Hot Line” trazendo um riff pegajoso embalando uma boa música remetendo o ouvinte ao heavy metal clássico que era ouvido naqueles tempos.

Apesar de todos os problemas que enfrentou de produção, sendo um álbum feito “meio nas coxas” no supetão e improviso e na “entre-safra” de Ian Gillan,entre sua carreira solo e seu então vindouro retorno à formação clássica no ano seguinte, “Born Again” ainda conseguiu a proeza de ser 4º lugar na parada bretã e dar origem a uma turnê, que contara com Bev Bevan, da banda Electric Light Orchestra nas baquetas, em substituição a Bill Ward, que novamente deixava o posto devido a problemas de saúde.

Sem dúvida “Born Again” é um álbum com pecados, mas Sabbath bom é Sabbath pecaminoso.

Limpe o seu coração, ouça-o bem e conseguirá dar um setezinho ou sete e meio como nota ao pequeno brasinha.

Tracklist:

1. “Trashed
2. “Stonehenge
3. “Disturbing the Priest
4. “The Dark
5. “Zero the Hero
6. “Digital Bitch
7. “Born Again
8. “Hot Line
9. “Keep It Warm

A BANDA:

  • Ian Gillan – Vocais
  • Tony Iommi – Guitarra, flauta
  • Geezer Butler – Baixo
  • Bill Ward – Bateria
  • Geoff Nicholls – Teclados
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